quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Professor de História e os problemas estruturais do ensino

O Professor de História e os problemas estruturais do ensino

Um dos maiores desafios do professor de História é indubitavelmente os problemas de ordem estrutural, embora não sejam, propriamente dito um problema didático do qual é objeto desta pesquisa, merece atenção, pois falar em desafios didáticos de um professor de História, ou mesmo das dificuldades que um docente – novato em sala de aula ou com experiência – em transpor o conhecimento histórico em saber escolar, estão sem dúvidas muito além de simples impedimentos técnicos, que poderiam, dependendo da situação, serem sanados com a criação do hábito de leitura regular, ou com um eficiente e honesto programa de treinamento...

Problemas estes, que vem desde o período Imperial, passando pela República, mais destacando-se no período da Ditadura Militar do Brasil, iniciada na década de 60 (sessenta) do século passado, onde ainda hoje se percebe as seqüelas dos efeitos do que se pretendia implantar na Educação Brasileira, principalmente na disciplina de História.

“... se do ponto de vista do programa curricular, a História no Império dividiu-se entre a História Profana e a História Sagrada, o mesmo não se poderia afirmar sobre a história ensinada. A precariedade das escolas elementares indicavam que entre as propostas de ensino e sua efetivação na sala de aula existiu sempre um hiato...”

(Parâmetro Curriculares Nacionais: História e Geografia, 2001 p 20,.)

Passaram-se mais de um século e os problemas persistem. Percebe-se então, que a grande distancia existente entre a teoria e a prática na educação, não é um problema novo, está inserido no cerne da História da Educação Brasileira, desde os primeiros passos do Brasil como nação, e a questão da estrutura física, como se pode ver no fragmento de texto acima citado, “... a precariedade das escolas...” já denuncia que não se trata de um problema exclusivo das escolas atuais e nem tão pouco deste município.

Com relação a atual realidade das escolas públicas no Município de Timon, segundo alguns professores da rede de ensino municipal, faltam as escolas e que poderiam melhorar a prática docente, são: falta de bibliotecas, salas de vídeo, falta de acompanhamento pedagógico, laboratórios de informática, cadeiras confortáveis, ventiladores, banheiros funcionando e apoio da direção escolar.

É estarrecedor a realidade denunciada por esses profissionais, pois as necessidades apontadas pelos professores não são recursos tecnológicos de última geração, nem algo inovador a realidade escolar, pelo menos deveriam serem das escolas contemporânea, no entanto trata-se de algo indispensável a mais comum e periférica das escolas, tão comum que seria impossível imaginar o desenvolvimento da prática docente sem estes meios, apesar de serem comum no início dos anos 80, encontrar alunos assistindo aula no chão por falta de cadeiras.

Voltando do passeio histórico da educação brasileira, identificou-se que, foi no período da Ditadura Militar no Brasil, que mais se contribuiu para se chegar à trágica situação da educação a que se encontra, e em especial ao ensino de História.

Destarte não se trata apenas de problemas de omissão, ou falta de uma gestão responsável e competente por parte do estado, mas de uma ação comissiva, de cunho ideológico, que pretendia a priori desqualificar a Disciplina de História, e ou mesmo de substitui-la pelas disciplinas: Estudos Sociais, OSPB e etc., como pretendia as forças controladoras do estado durante os governos militares.

“... No ideal do Conselho de Segurança Nacional, que agia no sentido de controlar e reprimir as opiniões e os pensamentos dos cidadãos, de forma a eliminar toda e qualquer possibilidade de resistência ao regime autoritário... No interior desse projeto educacional, o ensino de História constitui-se alvo de especial atenção dos reformadores...” (Fonseca, S/D)

Para o regime militar - o controle da sociedade - era crucial para a manutenção do regime em questão, para isso, era necessário o controle, mediante a educação, do pensamento e da ação dos cidadãos, por meio desta, a Disciplina História, que tem como um dos seus principais objetivos, a formação de um pensamento critico dos alunos tornara-se uma ameaça, assim era necessária a desqualificação desta como disciplina, tal ato, se deu com a portaria número 790 de 1976, onde os professores de História ficaram praticamente as margens, ou melhor, excluídos do ensino do antigo primeiro grau.

Somente a desqualificação da Disciplina História, não seria suficiente, era preciso, elimina-la, dessa forma, tentaram substituir-la, como mencionamos anteriormente por Estudos Sociais e outras, como afirma Selva Guimarães (1995) As mudanças curriculares no ensino de 1º e 2º grau ocorridas com a reforma de 1971, previam a adoção de Estudos Sociais englobando os conteúdos Geografia e História no curso de 1º Grau

A desqualificação da Disciplina História foi o primeiro passo para por em prática os planos do Conselho de Segurança Nacional, tal desqualificação se deu em primeiro momento com o esvaziamento dos conteúdos de História, que aos poucos foi cedendo espaço para as novas disciplinas.

Uma das maiores conseqüências dessa invertida contra a disciplina de História ainda é sentida, por meio da rotulação que a disciplina adquiriu neste tempo como “decoreba” ou seja, como uma disciplina de fácil memorização, já que o direcionamento que foi dado a esta foram para a apologia aos heróis e suas façanhas e comemorações de datas cíveis.

O estereotipo de disciplina voltada para memorização, é tão forte que lamentavelmente muitos professores desta, inclusive com formação em história, lembrando que muitos professores das disciplinas são de outras áreas, trabalham seguindo esta linha de pensamento, assim, é importante fazer o seguinte questionamento, que razões leva um professor de História, a desenvolver conteúdos de forma engessada por uma ideologia de controle e manipulação das massas tão explicita.

Este é um questionamento, que poderá ser melhor esclarecido em capítulos posteriores, onde serão trabalhados a formação dos professores de História.

Este na verdade é outro grande problema, que culminam com os problemas de ordem física das escolas. A formação dos docentes que atuam como professores de história, pois é comum encontrar docentes com outras formações como: pedagogia, português, e até sem formação superior, lecionando disciplinas de Historia, outro agravante que chama atenção e merece uma analise especial é o fato de que algumas escolas, possuírem professores formados em História mas que estão lecionando outras disciplinas como Inglês, ficando a cargo de um outro professor com uma formação distinta de História lecionar-la.

Tal fato leva para uma possível conclusão, que o problema da Disciplina de História ser lecionada por docentes com formação diferente, poderá ser não apenas, uma questão de carência de profissionais especifico da área, já que existia professores com aquela qualificação, trata-se na verdade, de uma problemática de ordem organizacional, que traz a luz um novo questionamento. Quais as intenções dos gestores escolares em fazerem e manterem tal permuta de profissionais e disciplinas?

Deve-se também, destacar outros dois fatores, que se enquadram como principais elementos que contribuem para o fracasso do profissional de história. O primeiro está relacionado a falta de investimentos por parte do poder público em recursos necessários ao ensino, como afirma Schimidt:

“...Um grande conjunto de variáveis pode ser responsabilizado pelo relativo insucesso da renovação do ensino de História, destacando-se, principalmente, o descaso a que vem sendo submetido a educação brasileira por parte das autoridades governamentais. Na verdade, podemos afirmar que o quadro-negro ainda persiste na educação brasileira, muitas vezes como único recurso na formação do professor e no cotidiano da sala de aula. É nesse contexto que podemos falar do significado da formação do professor e do cotidiano em sala de aula, de seu dilaceramento, embate e fazer histórico...” (Schimidt, 2004)

E nos casos em que houve um investimento em equipamento de informática por exemplo, ocorreu por outro lado, uma falta na qualificação adequada para o manuseio deste, pois a questão não limita-se apenas ao uso didático deste recurso na disciplina, mas a própria operação da máquina.

O segundo fator é um problema bem conhecido, e que não é uma exclusividade da classe dos professores, é questão econômica, refere-se a falta de condições financeira por parte dos professores para investirem em: qualificação, compra de livros, viagens, condições estas que se entende como essenciais na melhoria da qualidade do trabalho dos profissionais da educação.

“...Há muito se fala da rudeza do ofício de professor e isto se aplica com pertinência ao professor de História. A sua formação não se restringe a um recurso de História... Formado, o professor de História, como tantos outros, envolve-se com encargos familiares, com a luta pela sobrevivência e quase sempre não dispõe de tempo e nem de dinheiro para investir em sua qualificação profissional. Seu cotidiano é preenchido com múltiplas tarefas: seu tempo de viver é fragmentado, dilacerado pelas preocupações muitas vezes contraditórias entre sua profissão, família e progresso cultural...” (Schimidt, 2004)

Sem falar no lazer, fator importante no equilíbrio emocional de qualquer ser humano, inclusive a do professor que vive no limite entre um estado emocional equilibrado e o stress.

Obs. Este texto é parte da monografia defendida por este auto na pós graduação em metodologia.